Você se lembra dos famosos cigarros de chocolate que toda criança adorava comer décadas atrás? Se você não era dessa época e nunca experimentou, pelo menos, já deve ter ouvido falar alguma vez na vida.
Os chocolates em forma de cigarrinhos eram sucesso entre meninos e meninas! Mais do que saborear o doce, a alegria mesmo da garotada era poder, em sua fértil imaginação, fazer algo que não era permitido na vida real: brincar de imitar as elegantes e sofisticadas poses dos adultos que fumavam.
Afinal, entre as décadas de 50 e 60, fumar era considerado um hábito super cool – e não um vício – e também estava na moda. E, ainda, como o ato era considerado elegante e até sinônimo de status, era comum ver até celebridades e apresentadores de programas de TV fumando em transmissões ao vivo.
A principal marca àquela época era a Pan, que logo pensou em lançar um produto que pudesse dar às crianças a sensação de imitar os adultos. A fabricante trazia na embalagem do seu produto o título de “cigarrinhos de chocolate ao leite” – mesmo que, posteriormente, nos anos 90, tenha alterado essa frase para “rolinhos de chocolate ao leite”, motivo que vamos explicar mais à frente.
Além disso, a embalagem também trazia a foto de um menino fazendo uma pose de alusão ao ato de fumar, o que também foi modificado junto com a frase anos depois. Para você ter uma ideia, apesar de parecer algo muito distante da nossa realidade hoje (ora, ninguém gosta de ver por aí crianças fingindo que estão fumando, não é?), até a própria embalagem em si dos cigarrinhos de chocolate Pan lembrava um maço ou carteira de cigarro.
Ainda na década de 50, a fábrica de chocolates Garoto também chegou a abraçar a ideia e lançou os “Cigarrinhos Garoto”. Porém, não alcançou o mesmo sucesso da marca Pan, ficando mais famosa nos anos 90 após a propaganda hipnótica do “Compre Baton, Compre Baton”.
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Anos 90: a proibição dos cigarros de chocolate
De uma marca ou de outra, o fato é que os chocolates em forma de cigarros eram apenas chocolates, de fato. Ou seja, deles, não sairia nenhuma fumaça e, tampouco, contaminaria o pulmão ou traria quaisquer dos demais malefícios do cigarro que conhecemos hoje. Mas será que eles não seriam capazes de estimular a ideia de fumar às crianças? Será que elas não cresceriam pensando que o ato de fumar era bom?
Foi isso que questionou o Ministério da Saúde, na década de 90, quando decidiu vetar a imagem do garoto na embalagem dos cigarrinhos de chocolate Pan, bem como a frase que descrevia o produto. Afinal, nem toda brincadeira é vista com bons olhos pelas autoridades e pela legislação.
O órgão se baseou em artigos importantes, dentro do ordenamento jurídico pátrio, que têm como finalidade resguardar crianças e adolescentes, como é o caso da própria Constituição e, também, do Estatuto da Criança e do Adolescente, mais precisamente, a Lei Nº 8.069/1990.
Todos eles tratam do medo da imitação da criança diante do seu “adulto-espelho”. Isto é, quando a diversão de comer os divertidos cigarros de chocolate poderia se transformar em vício. Não é à toa que tudo mudou depois disso com relação às propagandas de cigarro (desta vez, dos cigarros de verdade).
Você pode notar que, desde a Portaria Nº 490/1988, do Ministério da Saúde, todas as propagandas, de qualquer marca de cigarros, são exibidas acompanhadas, ao final, por advertências sobre os riscos de fumar à saúde. Inclusive, uma delas, pertencente à Portaria Nº 695/1999, diz assim: “O Ministério da Saúde adverte: crianças começam a fumar ao verem adultos fumando”.
Mais tarde, seguindo essa linha, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através da Resolução Nº 304, de 8 de novembro de 2002, publicada no Diário Oficial da União, estabeleceu o seguinte: “Art. 1º Proibir em todo o território nacional a produção, importação, comercialização, propaganda e distribuição de alimentos com forma de apresentação semelhante a cigarro, charuto, cigarrilha, ou qualquer outro produto fumígeno, derivado do tabaco ou não”.
Em 2013, a agência reguladora editou a portaria, que passou a determinar o seguinte: “Fica proibida a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição e a propaganda, em todo o território nacional, de produtos de qualquer natureza, bem como embalagens, destinados ao público infantojuvenil, reproduzindo a forma de cigarros ou similares”.
Ou seja, resumindo, no Brasil, é proibido comprar ou vender o que antes nós chamávamos de cigarrinhos de chocolate. Por isso, a fabricante Pan, que ficou famosa nos anos 50, teve que modificar não só a sua embalagem, como também o produto. Logo após a proibição pelo Ministério da Saúde, os “cigarrinhos de chocolate” passaram a se chamar “rolinhos de chocolate” e frase mudou de “Cigarrinhos de chocolate ao leite” para “Rolinhos de chocolate ao leite”.
Quanto à imagem da embalagem, do garoto fazendo alusão ao ato de fumar, continuou a mesma, com a diferença de que o garoto, desta vez, fazia apenas um sinal de positivo com o dedo polegar. No entanto, no começo dos anos 2000, a marca Pan reformulou a sua embalagem e nome do produto novamente e, além de descartar a foto do garoto, também passou a se chamar “Chocolápis”, permanecendo assim até atualmente.
Hoje, a embalagem dos “chocolates em forma de lápis” é bem colorida, com o intuito de estumular as crianças a verem que há diversão e alegria em escrever.
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E por onde anda o garoto dos Cigarrinhos de Chocolate Pan?
A marca teve dois meninos que estampavam a embalagem do seu produto: um branco e um negro. No entanto, a foto do menino negro foi a que ficou mais famosa naquela época. E a história dele e como ele chegou a ficar conhecido como o “garoto dos Cigarrinhos de Chocolate Pan” é bem interessante.
No mesmo ano em que a fabricante Pan estava à prestes do lançamento de seu novo produto, os cigarrinhos de chocolate ao leite, um funcionário da empresa foi até um circo que passava pela cidade, aliás, um dos mais tradicionais do Brasil, chamado “Circo Garcia”.
Lá, um palhaço mirim chamado Berinjela arrancava gargalhadas do público e chamou a atenção do funcionário da Pan, que logo pensou no pequeno artista para estampar a embalagem do novo produto que seria lançado pela companhia onde trabalhava.
O nome desse garoto era Paulinho Pompéia, que, naquela época, com o cachê do uso de sua imagem nos Cigarrinhos de Chocolate Pan, conseguiu melhorar de vida e ajudar a sua família. A partir dali, Paulinho passou a fazer ainda mais apresentações em outros circos e até cantar em rádios.
Mais tarde, quando deixou de ser a “cara” da embalagem dos Cigarrinhos de Chocolate Pan, fez comerciais para a TV, além de ingressar na carreira de ator, o que lhe possibilitou fazer várias peças teatrais, além de participar de algumas novelas, inclusive, na Rede Globo, como “Malhação”, “O Mapa da Mina” e “Perigosas Peruas”.
Paulinho Pompéia também passou pelas TVs Record, Manchete e Cultura, além de atuar como apresentador no Telecurso 2000.
Atualmente, aos 70 anos, o “eterno garoto propaganda dos Cigarrinhos Pan” trabalha dando palestras e cursos para jovens atores, além de ser diretor executivo do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões Públicas (Sated).
E quer saber o que é mais curioso? Ao ser perguntando se, após ser a estampa da embalagem dos cigarros de chocolate, ele chegou a fumar, a resposta foi que ele nunca fumou na vida e, ironicamente, nunca chegou a comer o chocolate da marca, porque não gosta de chocolates.
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Até a próxima!
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